O Diário da Região fez uma reportagem sobre o Armazém Caparroz, um estabelecimento comercial tradicional na cidade de Uchoa. O armazém é um verdadeiro “shopping center caipira” de quase um século que resiste às transformações de modos e costumes. Confira, lendo a matéria completa abaixo:

O freguês encosta no balcão e pede uma caixa de fósforo. Já está com as moedas contadas na mão para pagar quando se lembra que o seu farolete, indispensável para a pescaria no dia seguinte, está sem pilhas. Pede três Rayovac das grandes e novamente prepara o pagamento quando se lembra que também precisa renovar os estoques de anzol e de chumbada, além de um novo carretel de linha para ajeitar o molinete. Daí também se dá conta de que precisa do macarrão de isca pra, quem sabe fisgar uns lambaris. Por último, se lembra de que seu baralho caiu no rio da última vez e pede também um Copag, pois um carteado vai bem quando os peixes fazem greve. No final das contas, em vez de um, o freguês vai embora com quase dez artigos comprados.

Esta é a definição mais genuína de um bom comércio especializado em variedades, daqueles que os antigos diziam com aquele humor bem peculiar: “Do que tem, não falta nada”. E daqueles que o bom comerciante não se dá por vencido quando não tem o produto requisitado pelo cliente: “Tem, mas acabou”.

Assim eram os estabelecimentos comerciais de antigamente, num tempo bem antes de surgirem os conceitos típicos da vida concentrada nos centros urbanos. Nada de shopping, tão pouco ruas asfaltadas e energia elétrica ainda era quase um luxo. A vida em grande parte corria na zona rural e as colônias das propriedades eram quase como minicidades. Aquilo que não se produzia na lavoura era buscado nas “vendas”, lugares em geral de muitas portas em que de tudo um pouco se vendia para suprir a vida naqueles tempos ainda mais bucólicos.

Entrar no Armazém Caparroz, em Uchoa, no bairro de São Miguel, é um pouco fazer essa viagem no tempo. Na época dos balaios para acondicionar ou transportar cereais, tachos para frituras ou fazer sabão em barra, lamparinas para adicionar um fio de luz que não fosse apenas a da lua, potes e moringas para aplacar a sede com água fresquinha, macarrão daquele ainda embalado em papel, e mais uma centena de produtos que chegam a confundir a vista.

Um verdadeiro “shopping center caipira” de quase um século que resiste às transformações de modos e costumes. O online ali é a instantaneidade do sorriso e a certeza de ser bem recebido pelos atuais responsáveis por conduzir o armazém nos mesmos moldes desde que foi inaugurado, em 1928. Seu Tomas Caparroz, 62 anos, e seu José Miguel Caparroz, 58 anos, estão sempre ali, firmes atrás do balcão e dispostos a garantir que a freguesia não saia dali sem encontrar o que precisava ou até mesmo nem se lembrava que fazia falta.

Bolinha de gude, estilingues comuns e até próprios para arremessar a ceva (ração de peixe) no rio, ferramentas, torneiras, chapéus, bacias, rapadura, bainhas para canivete, facas e até capinhas para guardar o celular, isqueiros e bingas (aquelas que acendem no triscar da pedra, combinada com o chumaço de algodão embebido em fluido e o pavio de algodão), penicos, materiais elétricos, filtros, vassouras, louças, panelas, conchas, berrantes (sim, berrantes!), cordas, correntes...

Impossível enumerar a variedade de artigos no armazém, uma conta que nem os proprietários se arriscam a fazer. Cada espaço do lugar, tanto pra dentro quanto pra fora do balcão, é aproveitado ao máximo para cumprir a máxima que é a razão de ser do lugar desde 1928: atender a qualquer necessidade do cliente.

“Somos a terceira geração da família aqui no armazém. Para nós este lugar é muito mais que apenas um comércio, é parte de nossas vidas e da nossa própria história. E já vamos para a quarta geração”, diz seu Tomas, ao mencionar o filho, Augusto, 5 anos.

Fibra espanhola

A venda localizada no bairro de São Miguel, acima da linha férrea, remete às décadas iniciais de Uchoa, quando a localidade era desbravada e o sonho de seus pioneiros fazia a cidade ganhar forma.

O estabelecimento foi aberto por João Arteiro Garcia em 1928, apenas três anos depois do decreto que elevou o então distrito de “Ignacio Uchôa” em município. Já em 1939, Andrés Caparroz Garcia, que havia imigrado com a mulher, Antonia, de Cuevas – na província espanhola de Almeria – para o Brasil, compra o estabelecimento com o dinheiro da safra abundante de algodão. E inicia ali uma tradição que atravessou o tempo e permanece como ponto histórico e turístico uchoense.

Uma tradição que se prolonga no tempo, em um lugar onde “do que tem, não falta nada”. Muito menos história.


Fonte: Diário da Região

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